E que tal, não fugir? E que tal viver? Viver em conformidade
com os protocolos. Viver como manda o figurino. Obedecer às leis. Leis
duvidosas. Que vivem a nos colocar em prova. E que tal se conformar? Parar um
pouco de se desesperar. Parar de dar a cara à tapa. Parar de sofrer por antecipação
ou de sofrer por opção e indignação. E que tal empurrar as coisas com a
barriga? Dançar conforme músicas alheias. Aprender a não discordar. Fazer-se
amigo do silêncio. Separar-se das palavras que incomodam amigar-se com as que
funcionam. Desistir de sonhos, descer das nuvens, ser prático e enfim encostar
os pés no chão. E que tal não se desiludir? Aceitar que os mecanismos da vida
são assim. Tudo é de plástico, às vezes de vidro. Plásticos e Vidros de péssima qualidade.
Falsos e facilmente quebráveis. E que tal aceitar a chatice? Afinal... Não é o
que todos os dias nos dizem... A vida é assim. Se quiser vencer, progredir, ser alguém, conquistar coisas, pessoas...
Temos que nos alimentar. De conhecimento, diplomas, tapinhas nas costas, indicações,
experiência. Temos que nos mostrar capazes, o tempo inteiro. Não temos saídas,
não podemos apenas ser ou fazer. Estamos em prova a todo o momento. Então, para
que fugir? Para viver do lado marginal da vida? Para ter dedos apontados na
nossa direção? Para carregarmos o peso de não ter conquistado o que todos
esperam? Para lembrarmos no fim que todos conquistaram aquilo que devíamos ter, Para
mostrarmos que resolvemos escolher outro caminho? Qual o sentido disso? No fim
das contas para ninguém isso terá valor. Para que fugir? Se todos dizem que é
mais fácil aceitar que a vida é assim?